CérebroConstipação

Eixo Intestino-Cérebro: o Papel da Microbiota Intestinal nas Doenças Inflamatórias

O intestino humano abriga trilhões de bactérias benéficas que formam a microbiota intestinal, uma comunidade essencial para o bom funcionamento do organismo. Essas bactérias participam da digestão, ajudam na absorção de nutrientes, produzem vitaminas, protegem contra microrganismos nocivos e, mais recentemente, têm sido reconhecidas por seu papel na regulação do sistema imunológico e dos processos […]

– Por Dr. Diego Romeiro Prado Alves

O intestino humano abriga trilhões de bactérias benéficas que formam a microbiota intestinal, uma comunidade essencial para o bom funcionamento do organismo. Essas bactérias participam da digestão, ajudam na absorção de nutrientes, produzem vitaminas, protegem contra microrganismos nocivos e, mais recentemente, têm sido reconhecidas por seu papel na regulação do sistema imunológico e dos processos inflamatórios.

Cerca de 70% a 80% das células do sistema imunológico estão concentradas nos linfonodos mesentéricos, estruturas localizadas próximas ao intestino. Essa proximidade revela uma ligação direta entre a saúde intestinal e a resposta imunológica do corpo. Essa comunicação acontece através do chamado eixo intestino-cérebro (também conhecido como eixo microbiota-intestino-cérebro, ou eixo MGB), um sistema que conecta o intestino ao sistema nervoso central e ao sistema imune.

Estudos indicam que alterações na microbiota intestinal, um desequilíbrio conhecido como disbiose, podem estar associadas a diversas doenças inflamatórias, autoimunes e neurológicas, como:

  • Doença Inflamatória Intestinal (DII)
  • Síndrome do Intestino Irritável (SII)
  • Doença de Parkinson (DP)
  • Doença de Alzheimer (DA)
  • Esclerose Múltipla (EM)
  • Distúrbios neurológicos como o autismo
  • Obesidade e doenças metabólicas

Além disso, essas bactérias produzem substâncias que afetam o funcionamento do cérebro, influenciando o humor, o comportamento e a saúde mental, por meio de neurotransmissores como a serotonina.

Fatores que Afetam a Microbiota

A composição da microbiota começa a se formar ainda nos primeiros dias de vida e pode ser influenciada por diversos fatores, como:

  • Tipo de parto (vaginal ou cesárea)
  • Aleitamento materno ou fórmula
  • Alimentação ao longo da vida
  • Uso de antibióticos, conservantes e outros medicamentos

Quando essa microbiota perde sua diversidade natural, ocorre a disbiose, que pode favorecer o desenvolvimento de doenças inflamatórias, alergias, distúrbios autoimunes e outras condições crônicas.

Funções Protetoras e Terapêuticas da Microbiota

Em equilíbrio, as bactérias comensais (as “bactérias do bem”) do intestino desempenham funções importantes como:

  • Digestão de fibras e produção de ácidos graxos de cadeia curta, com ação anti-inflamatória
  • Produção de vitamina K e outros nutrientes
  • Barreira contra microrganismos patogênicos, protegendo a mucosa intestinal

Já o sistema imunológico intestinal pode se tornar mais reativo e inflamatório quando a mucosa é invadida por agentes infecciosos como parasitas, vírus ou bactérias nocivas. Nesse contexto, sintomas como diarreia, náuseas e perda de apetite são respostas naturais do corpo para combater a infecção e evitar a ingestão de novos agentes agressores.

Probióticos e Tratamentos Emergentes

Diante da importância da microbiota, estratégias terapêuticas que visam restaurar seu equilíbrio estão sendo cada vez mais estudadas. Entre elas:

  • Uso de probióticos (bactérias benéficas vivas)
  • Prebióticos (fibras que alimentam as bactérias boas)
  • Antibióticos seletivos
  • Transplante de microbiota fecal (FMT)

Essas abordagens já mostram bons resultados clínicos em algumas condições, especialmente nas doenças inflamatórias intestinais. No entanto, ainda são necessárias mais pesquisas para confirmar sua eficácia e segurança em longo prazo.

Com o aumento da oferta de alimentos e suplementos probióticos no mercado, é essencial que a população esteja bem informada sobre seus reais benefícios e saiba identificar quais produtos têm comprovação científica


Referencias :

  1. MACPHERSON, A. J.; DE AGÜERO, M. G.; GANAL-VONARBURG, S. C. How nutrition and the maternal microbiota shape the neonatal immune system. Nature Reviews Immunology, v. 17, n. 8, p. 508–517, 2017.
  2. VAN DEN ELSEN, L. W. J. et al. Shaping the gut microbiota by breastfeeding: the gateway to allergy prevention? Frontiers in Pediatrics, v. 7, p. 47, 2019.
  3. GENTILE, C. L.; WEIR, T. L. The gut microbiota at the intersection of diet and human health. Science, v. 362, n. 6416, p. 776–780, 2018.
  4. MASLOWSKI, K. M. et al. Regulation of inflammatory responses by gut microbiota and chemoattractant receptor GPR43. Nature, v. 461, n. 7268, p. 1282–1286, 2009.
  5. MIQUEL, S. et al. Faecalibacterium prausnitzii and human intestinal health. Current Opinion in Microbiology, v. 16, n. 3, p. 255–261, 2013.
  6. WANG, A. et al. Opposing effects of fasting metabolism on tissue tolerance in bacterial and viral inflammation. Cell, v. 166, n. 6, p. 1512–1525, 2016.
  7. ESTERHÁZY, D. et al. Compartmentalized gut lymph node drainage dictates adaptive immune responses. Nature, [S.l.], 15 abr. 2019. DOI: https://doi.org/10.1038/s41586-019-1087-3.
  8. NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE. How the gut influences immune responses. PubMed Central, [S.l.], 2023. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10585369/. Acesso em: 25 mar. 2025.
Dr. Diego Romeiro Prado Alves

Dr. Diego Romeiro Prado Alves

Founder & CEO da Allevio
CRM 8529 MS RQE 4806
Residência em cirurgia geral pela Santa casa de misericórdia de Ribeirão Preto.

Especialização em hepatologia, cirurgia hepática e transplante de fígado pela BHMD

voltar ao topo

leia também